... sou eu! No ano passado os ovos de bichos-da-seda que tinha na sala de aula, se calhar por causa do calor ambiente (apesar de não ser muito), eclodiram em fevereiro e não havia comida para lhes dar. A amoreira ainda nem rebentos tinha e os bichos já ali, cheios de fome. A sorte foi que eles não foram esquisitos e comeram folhas de alface até as folhas de amoreira estarem prontas.
Para evitar correr esse risco este ano, eu resolvi, no verão, trazer os ovinhos para casa e guardá-los em local fresco. Lembro-me que pensei em várias hipóteses de locais até me decidir por os guardar exatamente ...
Onde? Pois não sei! Já corri tudo e não dou com os ovos! A esta hora já ecloriram e já morreram de fome... Estou cheia de remorsos. E os garotos não perdoam...
Na sequência de uma troca de mails acerca das dificuldades de uma (boa) aluna para entender as frações, recebi este mail da mãe:
Olá, bom dia,
fico mais descansada! :-) realmente aquilo é muito difícil de explicar. Para nós é obvio, mas para eles é muito complexo. Também não percebo qual é a ideia de ensinar frações a estas idades. A garota é inteligente e olhava para mim como um burro a olhar para um palácio. Até fiquei preocupada! Eu costumo dizer que são "Insónias dos pensadores". Estão na cama, não conseguem dormir e têm estas ideias fantásticas.
A escola está cheia de exageros, exageros na matéria, nos horários... juntam-se as múltiplas atividades extra e os estudos em casa e os miúdos não têm tempo para nada.
Se não têm tempo para brincar, para descansar, para contemplar, para apanhar seca, como é que vão desenvolver a criatividade, a autonomia, o pensamento crítico e a reflexão? Cada vez se defende mais que são competências essenciais para aprendizagem ao longo da vida mas depois, na prática, não se dá espaço para nada disso. Têm horários de adulto, compromissos diários, não saem à rua nem brincam com os amigos fora da escola... enfim... desculpe o desabafo, mas deixa-me realmente frustrada.
A M. é uma sortuda :-) vou buscá-la às 16h, para ela lanchar descansada. Faz os trabalhos de casa em 5 minutos e depois brinca com o irmão e faz o que lhe apetece. Quando posso, trago as amiguinhas dela, mas também são tão ocupadas que não têm tempo para vir brincar. Quanto aos estudos, para já, são uma revisão de conceitos na véspera do teste, ehehheh! Fora isso, quando ela tem alguma dificuldade, pede-me ajuda, como nisto das frações. Às vezes estuda por iniciativa dela, por exemplo, se tem ditado, quer treinar antes para não dar erros, mas é ela que põe os objetivos. Acho que não precisa de mais nada. Quero que ela seja criança e aproveite o tempo livre o mais que puder!
Não vou de maneira nenhuma defender a professora (nem ninguém, não tenho conhecimento do que se terá passado), mas o papá do menino em causa é que não é defensável de maneira nenhuma: queixa à GNR?
Não bastava uma queixa à direção da escola?
Era preciso meter a GNR e o circo todo de jornais e televisões?
Numa altura em que há pessoas capazes de vender a mãe para aparecerem na televisão, estes casos dão-me que pensar.
Mas, o que eu gostaria mesmo, mesmo, era de ter notícias desta criança daqui a uns 10 anos...
Todos os jornais falam da criança que ficou "à fome" no refeitório, mas nenhuns falam dos que ficam à fome em casa! É que todos sabemos, desde tenra idade, que, quer queiramos quer não, pagamos pelos erros dos nossos pais: ninguém escolhe a família onde nasce!
Neste caso atira-se a escola e a diretora às feras, mas os refeitórios escolares sempre funcionaram assim: só vêm refeições para quem as encomendou, e só há encomenda se houver pagamento... A única culpa que pode haver por parte da escola, será se não tiverem avisado os pais desta criança que ela deveria ir almoçar a casa nesse dia, uma vez que não havia refeição a contar com ela na escola. É que os almoços vêm à certa para as reservas feitas, e são reservados de véspera.
Nas minhas arrumações de fim/início de ano, fui desencantar as minhas "Rua Sésamo" e resolvi levá-las para a escola... Quer dizer, resolvi e "desarresolvi" logo de seguida, porque elas, apesar de terem quase 20 anos, continuam atuais, cheias de ideias giras para os mais pequenos: jogos, histórias, poemas, adivinhas, bandas desenhadas... E lá vou eu ter de fazer "scaner" com algumas coisas, porque não me desfaço das minhas revistinhas.
Na sequência do que escrevi antes, e como os cuscos são muitos, vou passar a explicar:
As mudanças foram (vão ser) grandes, mas não enooormes. Vou fazer o mesmo trabalho que sempre fiz (que é o que gosto de fazer): dar aulas.
Só que, vou mudar de escola! Fico dentro do mesmo agrupamento, terei os mesmos colegas, mas muda o edifício. De uma mini-escola, com 2 professoras e 30 alunos, vou passar para a sede do agrupamento, onde há turmas desde o 1.º ano (a minha!) até ao 9.º, montes de colegas, de funcionários, de salas, de confusão.
Por agora está tudo a correr bem, mas o impacto maior está quase a chegar: uma turma de 1.º ano - crianças de 5 e 6 anos - com 25 (vinte e cinco!) alunos. Vão ser 25 pares de olhos a olharem para mim e... muito pior, 25 boquinhas falantes. Ai, ai...
Ando às voltas com o euro e com os cêntimos. E meter naquelas cabecinhas, que ainda mal sabem ler, que 1€= 100 cêntimos, e fazer aquelas contas todas e aquelas equivalências, é areia de mais para eles...
Por isso, se o euro está mesmo para acabar, façam-no depressa, antes que eu dê em doida!
Os alunos tinham de escrever um texto sobre uma profissão que conhecessem bem.
A Rita escreveu assim:
«Anda de bata aos quadrados e às cores, e trabalha junto a uma mesa. Usa lápis, caneta e borracha. As fichas são a sua especialidade. Também faz textos e fichas, ensina os meninos e ajuda a aprender. Tira fotocópias para os alunos e ensina matemática, estudo do meio e língua portuguesa. Escreve no quadro e ensina o a, e, i, o, u e o alfabeto todo.
Ajuda as crianças que têm dificuldades e ajuda os meninos e as meninas a ler. Corrige testes, fichas, textos, contas, perguntas, lê histórias, livros e textos. Manda trabalhos para casa, mostra coisas no computador e às vezes deixa-nos fazer outras actividades e deixa-nos dançar de vez em quando. Todos gostam dela e do que ela faz. É a minha professora e chama-se Margarida!»
Estou a pensar em apresentar este texto como a minha auto-avaliação. Que acham?
E que dizer de uns pais que, por dois dias consecutivos, deixaram na escola o filho doente, com vómitos, dores de cabeça e febres altas (na hora em que o deixam está sem febre graças ao brufen)e que se mantêm incontactáveis até às 17:30?