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É notícia hoje que as instituiçoes recebem cada vez mais crianças em risco.Eu devia alegrar-me com a notícia pois na minha escola - dentro da minha sala - havia uma dessas crianças.
No último dia de aulas antes das férias da Páscoa não sabíamos, nem eu, nem ele, nem os colegas, que não voltaria no 3.º período.
Porque entretanto foi entregue pelo tribunal a uma dessas instituições.
Ainda não entrei em contacto nem com ele nem com a instituição pois não sei se o devo ou posso fazer.
Mas os colegas estão a escrever-lhe cartas e a fazer desenhos que lhe iremos enviar pelo correio.
Eu "perdi" o meu "companheiro" que acabava os trabalhos à pressa e se vinha pespegar ao pé de mim para observar tudo o que eu fazia e para conversar...
"Perdi" um dos grandes fãs do Blog dos Golfinhos...
"Perdi" o meu poeta...
Por isso, e como disse no início, acho que devia alegrar-me, no entanto não o consigo fazer!
Porque penso o que sentirá uma criança de 10 anos habituada a viver em liberdade e bem integrada no seu ambiente que conhece como ninguém, de repente enclausurada num mundo completamente estranho.
Por outro lado, sei que era negligenciado pela mãe: não lhe proporcionava refeições decentes nem a horas, não lhe lavava a roupa...
Se a mãe é que é a incompetente porque há-de ser ele o castigado?
Porque não tomaram esta medida quando ele tinha 2 ou 3 anos, se nessa altura houve acontecimentos ainda mais graves na sua vida?
Porquê esperar tantos anos?
E será que esgotaram todas as tentativas junto do pai, que mora perto, e com quem ele até passava muitos fins de semana?
Sei que ele agora deve estar limpo, asseado, com a mochila finalmente em ordem e sem fome.
Mas feliz duvido que esteja!