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Fábulas

Fábulas

:-(

Acabei de vir agora da rua.
Só ao fim de cerca de duas horas a estranhar tanto trânsito na minha pacata rua é que resolvi ir ver o que se passava.
A cerca de 50 metros de minha casa, paralela à minha rua passa a estrada que liga Aveiro à A1 e a Oliveira do Bairro. É também a estrada usada para quem sai da A1 pela saída Aveiro Sul.
É ainda a estrada que mais directamente liga a parte sul do concelho de Aveiro ao Hospital, pelo que não estranho ouvir muitas ambulâncias.

Hoje foi diferente: o acidente era mesmo aqui.
Quando cheguei ao local os bombeiros estavam a lavar a estrada, os carros desfeitos (3) estavam já em cima dos reboques. Os mais inteiros estavam pela berma da estrada.
O local do acidente facilitava a vida aos mirones (eu incluída), pois foi mesmo na zona da ponte pedonal, que serviu de varanda.

Pelo que fiquei a saber, um automobilista ultrapassou vários carros e foi embater frontalmente em 3 ou 4 que vinham em sentido contrário.
Num deles vinham duas estudantes da Universidade de Aveiro que iam passar o fim-de-semana a casa, em Pombal.
Uma delas jamais voltará para casa.
Dos outros envolvidos não se sabia, mas falava-se em feridos muito graves.

Eu não imagino, não quero imaginar, nem sequer me passa pela cabeça, a dor daquela família que esperava a filha e que a vai receber morta.
É cruel demais...

Nestes escassos 6 ou 7 Km que ligam Aveiro à A1 tem havido imensos acidentes mortais. Se compararmos o número de quilómetros, é se calhar, uma estrada mais mortífera que qualquer IP.
No entanto foi-lhe posto um tapete novo mas ainda não houve tempo ou pachorra ou falta alguém assinar algum maldito papel para lhe fazerem os riscos. Não tem nenhuma espécie de marca na maior parte do percurso.
Também há anos que se fala na sua duplicação, mas também ainda não houve "tempo" para isso.
Eu não desejo o mal de ninguém, mas às vezes passa-me pela cabeça que se morresse num destes acidentes alguém muito importante talvez estas coisas se resolvessem mais rapidamente...

Mas agora só me vem à cabeça que neste momento há uma família a sofrer uma dor indescritível...
Sinto muito.

Uma prenda

Hoje recebi uma prenda.
Um bonequinho de plástico, em forma de cachorro, com água lá dentro e umas coisinhas a brilhar...

Foi-me oferecido pelo meu aluno mais pobre, mais desprotegido, mais carenciado de tudo.
Ainda não tem livros porque a mãe não os paga (e ainda não me pagou os do ano passado...).
Mete-me dó ver o garoto sem livros, mas na altura certa fiz tudo o que podia fazer: preenchi os papéis à mãe para ela pedir o subsídio à Câmara. Ela não os foi entregar.
Já em Setembro, na reunião do início do ano, perguntei-lhe porque não tinha tratado do subsídio e ainda me respondeu com maus modos, que não precisava de subsídio porque "graças a Deus trabalho e ganho bem".
Eu sei que a criança não tem culpa nenhuma de ter a mãe que tem, mas pagar-lhe os livros seria fazer com que ela continuasse a achar que não tem deveres para com a escola que tudo resolve...
Esta situação anda a incomodar-me desde que começaram as aulas, tenho até vindo a adiar a utilização dos livros, mas não posso esperar mais.
Ainda por cima ele não é caso único: a prima está na mesma situação.
E eu não sei o que fazer...
Só sinto uma raiva enorme por haver gente que põe filhos no mundo para depois os negligenciar, esperando que alguém lhe resolva todos os problemas!

E foi por isso que fiquei com um nó na garganta quando, ao entrar na sala, ele se dirige a mim com o bonequito na mão dizendo "Toma professora, é uma prenda para ti"

Kurrentes

Um dia destes recebi por email mais uma daquelas milhentas correntes que toda a gente recebe... (e que eu, boazinha, faço o favor de não repassar a ninguém!)
Mas esta é especial. Embora não a tenha reenviado e me habilite assim a um monte de infortúnios, resolvi publicá-la aqui para ver se o castigo é reduzido!
Recebi-a de uma menina que anda no 12.º ano, que, com certeza não a escreveu, mas que a recebeu também de alguém das mesmas idades.
Serão estes os estudantes universitários do próximo ano lectivo!
E pensar que dou cabo da paciência aos meus meninos (e da minha também!) para os pôr a escrever correctamente!
Para quê?

«Eu choro por ti, se pensas k eu te kero e k n vivo sem ti TU ACERTASTE ADORO TE
amanha alguem vai te pedir em namoro mas isso so vai acontecer s tu mandes isso para 15 pessoas e s tu ignorares, algo mt ruim vai acontecer na tua vida se mandares a pessoa k
adoras de volta e ela mandarte a ti é porke ele/a adora-te muito»


Fico sem palavras...
Ver gente a escrever assim, só pode ser a primeira maldição a chegar!!

Dúvidas, dívidas e assim...

Ao contrário de outras autarquias, onde se distribuem panfletos, electrodomésticos, viagens de helicóptero e até chouriços, na minha anda tudo muito forreta!
Por isso só hoje recebi o programa do actual presidente e novamente candidato pelo PS em Aveiro, Dr. Alberto Souto.
Dos outros, népias...

Assim tive tempo e pachorra para o ler todo.
Fiquei admirada com tanta obra feita!
E eu a pensar que não tinham feito nada...
(o que dizem as más línguas é que as coisas podem estar feitas, mas muitas não estão ainda pagas! Mas isso só mesmo as más línguas!!)

Mais admirada ainda fiquei com o que se comprometem a fazer se ganharem as eleições. A começar pelo já famoso, e de fazer roer de inveja os profes do resto do país, oferecimento de um portátil a cada professor do 1.º ciclo...
Mas há mais, há muito mais! São 41 páginas de coisas feitas e a fazer.
Há obras para todos os gostos, é uma alegria ler este programa.
País em crise?
Está bem, então nós somos estrangeiros!
(e eu que só queria um recreio decente, um coberto que fosse mesmo coberto e luz na minha rua! Sou tão pobre a pedir que até mete dó!)

Ah, e outra coisa: quando visitarem Aveiro, em vez de andarem por aí de carro a poluir a nossa bela cidade - ainda o é, apesar de alguns prédios amontoados e rotundas-montanha-russa - podem ir pela ria... a nado!
No domingo houve um pessoal da Câmara que fez isso e que eu saiba não morreu ninguém!
(isto hoje tem mais à partes que sei lá o quê, mas agora de repente lembrei-me de um candidato a uma outra Câmara que aqui há uns anos também andou a nadar no Tejo e... afogou-se!! - politicamente falando, é claro, que o senhor está para aí vivo e palrador!)

Ainda os ciganos

Tantos comentários fazem-me voltar ao assunto.
Eu tenho alunos ciganos desde há 8 anos.
Começaram por ser dois e pertenciam à minha turma.
Depois o seu número foi aumentando todos os anos.
(se há uma coisa que eles fazem bem é reproduzir-se)
Chegámos a ter mais de vinte.
Este ano temos, num universo de 70 alunos e 4 turmas, 15 alunos ciganos.

Nunca houve problemas de maior com eles a não ser com os de uma família. Esses roubam: roubam dinheiro às professoras, material aos colegas, leite...o que calha.
De resto, são de uma maneira geral obedientes e educados e relacionam-se bem com os outros colegas.
Já tivemos um caso ou outro mais problemático, mas problemas acontecem com todos, não é exclusivo deles...

O maior problema com eles é que, como não aprendem, andam na escola primária até aos 14 ou 15 anos, misturados com crianças de 5 e 6 anos...
Eles não aprendem por dois motivos essenciais: faltam imenso às aulas e não estudam nem se interessam minimamente pela escola.
Para eles a escola termina na hora de saída e só pensam nela no dia seguinte, se não faltarem. Alguns nem se dão ao trabalho de levar a mochila para casa!

O que me chateia nesta história toda é que os pais recebem o rendimento mínimo e a única obrigação que lhes é imposta é mandarem os filhos à escola...
Eles não mandam e pensam que alguém os repreende por isso?
Nem pensar!
NUNCA ninguém me telefonou ou escreveu a perguntar se eles eram assíduos ou não! Nunquinha!
Os pais de alguns também andam na escola à noite.
Só que aqui acontece um mistério: eles eram analfabetos há oito anos atrás e continuam analfabetos!
Alguns nem o nome aprenderam ainda a assinar...
Francamente não sei que raio de escola frequentam eles!

Na minha opinião eles deviam ser obrigados a optar: ou recebem rendimento e cumprem as regras impostas, ou querem continuar com a vida que sempre tiveram e não recebem nada... Como disse alguém nos comentários, não podemos impôr a nossa maneira de viver a quem não a quer...
Ok, não impomos e não pagamos!

Porque eu fico pior que estragada quando vejo esta gente receber de rendimento mínimo mais do que a maioria dos pais e mães dos meus alunos recebem de ordenado a trabalhar em fábricas das 8 às 18!
E depois ainda têm, automaticamente, subsídio da Câmara para livros e material...
Os pais das outras crianças para terem direito ao mesmo subsídio, têm uma lista de papéis para tratar que enche uma folha A4.
Muitos desistem de pedir, pois o tempo que perderiam nos empregos a tratar de tantos assuntos não compensaria...

Resumindo e concluindo: o problema não está nos ciganos, está em quem os quis integrar mais ou menos à força e agora não tem coragem de desatar este nó!

Os ciganos não querem trabalhar...

Tentava eu convencer um pai cigano das vantagens de deixar a filha continuar a estudar...
(ela tem 14 anos e está a repetir o 4.º ano, a pedido da mãe. Eu acedi ao pedido pois além dos pais não a deixarem seguir para o 2.º ciclo, ainda eram capazes de a casar. Assim, pelo menos tem direito a ser criança e a jogar ao ringue por mais um ano)
E lá estava eu a gastar o meu latim, patati patatá, dizendo que ela tem capacidades, e podia até vir a tirar um curso profissional e depois ter acesso a um bom emprego.
É aí que o pai me interrompe para dizer, rindo e como se fosse a coisa mais normal deste mundo e a anormal fosse eu:
"Mas os ciganos não querem trabalhar"

Toma e embrulha Margarida e vai aprendendo!
Lá vais ter tu de andar mais um ano com uma nota de 5 euros no bolso para evitar males maiores...
(isto é o meu grilo a falar...)

Antes da tempestade

Ainda só passaram três dias de escola e o rol das minhas queixas já é grande...
Antes de começar para aqui a desbobinar as desgraças, fiquem com este momento de relax e aproveitem...

Também me sinto um bocado assim: com piercings que não escolhi!

(des)Actualidades

Vejam lá se esta citação não vos soa tão actual (deprimente, mas actual):

«O aumento constante do custo de vida, o enorme gasto de dinheiro pelas classes altas, a ganância do lucro na classe média, a revolta e a desordem que se verificam no povo miúdo estão a arrastar o reino para um ponto sem regresso.»
in "Rosa brava", de José Manuel Saraiva, o livro que ando a devorar...

Tal e qual não?
Só que isto se passa algures à volta de 1380 ( há mais de seicentos anos)!!
Portanto está tudo a bater certo: a Idade Média não é só lá para o lado da Palestina!

Último cartucho

Acabou-se o vinho cá em casa...
Que chatice!
Então lá tivemos de ir à adega de Vila Nova de Tázem comprar mais algum.
Por aquelas bandas do Dão o pessoal anda na azáfama das vindimas.
Gosto da Beira Alta: as aldeias são todas lindas com casas de pedra, passeios largos, solares...
E lanchei nesta bela esplanada de Seia já que a tarde estava linda e quente...

Seia
E acabou-se o que era bom porque amanhã, pela mesma hora estarei fechadinha numa sala de aula...
Como diria o outro: "é a vida"!

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