Tenho uma relação amor-ódio com os escritos de Miguel Sousa Tavares. Adorava as crónicas que ele assinava na Máxima. Vi-o duas ou três vezes na TVI mas não gostei, por isso deixei de ver... Não gosto de fanatismos, nem que sejam clubísticos.
Consegue ser o homem que me (nos) espantou com o formidável romance "Equador", mas que disparata completamente em declarações na televisão, em crónicas de jornais e agora com uma espécie de "declaração" que circula aí pela net que dá pelo nome de "O cerco". Aí tanto escreve coisas acertadas como logo a seguir borra a escrita com afirmações verdadeiramente repulsivas.
Não vou transcrever o texto que é enorme, só algumas declarações divididas em "boas" e "más". Claro que é apenas a minha opinião, mas vale tanto como a dele...
"As boas"
"fumo, incluindo charutos" (esta está incluída nas boas porque eu sou a favor da liberdade de quem fuma, desde que não seja na minha casa ou no meu carro - e cada um tome conta dos seus domínios - e quem se quer matar a fumar tem esse direito...)
bebo
vibro com o futebol
acredito que as pessoas valem pelo seu mérito próprio e que quem tem valor acaba fatalmente por se impor, e por isso sou contra as quotas
se eu escrever velho em vez de «idoso», drogado em vez de «toxicodependente», cego em vez de «invisual», preso em vez de «recluso» ou impotente em vez de «portador de disfunção eréctil», vou ser adoptado nas escolas do país como exemplo do vocabulário que não se deve usar.
"As más"
não troco por quase nada uma caçada às perdizes entre amigos (eu sei que há muitos caçadores mas acho que não devia haver e pronto...)
acho a tourada um espectáculo deslumbrante
se eu tentar explicar por que razão a caça civilizada é um acto natural, chamam-me assassino dos pobres animaizinhos, sem sequer quererem perceber que os animaizinhos só existem porque há quem os crie, quem os cace e quem os coma (como se terão safado os animaizinhos antes da humanidade aparecer para os salvar??)
"As incongruências"
Por um lado diz: "deixei de acreditar que o Estado deva gastar os recursos dos contribuintes a tentar «reintegrar» as «minorias» instaladas na assistência pública, como os ciganos, os drogados, os artistas de várias especialidades ou os desempregados profissionais",
para logo depois dizer:"a Dinamarca não tem petróleo, mas é um dos países mais civilizados domundo: tem um verdadeiro Estado Social, uma sociedade aberta que pratica a igualdade de direitos a todos os níveis, respeita todas as crenças, protege todas as minorias(...)
E a melhor de todas: "Se a uma senhora que anteontem se indignava no «Público» porque detectou um sorriso condescendente do dr. Souto Moura perante a intervenção de uma deputada, na inquirição sobre escutas na Assembleia da República, eu disser que também escutei a intervenção da deputada com um sorriso condescendente, não por ela ser mulher mas por ser notoriamente incompetente para a função, ela responder-me-ia de certeza que eu sou «machista» e jamais aceitaria que lhe invertesse a tese: que o problema não é aquela deputada ser mulher, o problema é aquela mulher ser deputada"
Os "piratas" estão na berlinda: somos um país de criminosos, somos todos uns piratas. Até há quem diga na televisão - gente importante, que devia medir bem o que diz - que tirar umas músicas da net é a mesma coisa que roubar os CD's ou outros produtos das prateleiras dos supermercados... Que exagero!
Quem anda na net a tirar filmes ou CD's antes ou na altura em que eles saem para fazer cópias e as vender, esses sim, são piratas!
Agora quem, como eu e mais não sei quantos milhões de pessoas, vai à net buscar uma música ou outra porque sabe que gosta de ouvir mas que vai ser sol de pouca dura? Que nem chega a sair do computador para nenhum CD? Que a apaga do computador dali a um mês ou dois? Ou então, como me acontece às vezes, tirar umas músicas para utilizar nas aulas... isso é crime???
E comprar (com o meu dinheiro) CD's e DVD's para usar na escola mas depois, em vez de levar os originais e andar sempre com o coração nas mãos com medo que se estraguem, faço cópias e levo. Os alunos utilizam-nos à vontade e eu estou descansada porque se se estragarem tenho sempre o original e posso fazer outra cópia... Isso é crime?
E o preço de cada CD ou DVD em relação ao preço de custo e ao que recebem os autores pelos seus direitos, não é criminoso? E mais a mensalidade que pagamos para ter internet??
Eu respeito o direito dos autores mas sinceramente acho que tirar uma musica ou outra da internet não traz mal ao mundo nem é crime... Quando eu gosto mesmo duma música compro o CD original, porque gosto das coisas como devem de ser. E jamais deixei de comprar um CD por causa disso...
_____________
Na semana passada o meu marido foi à Cabovisão para cancelar a assinatura da SporTV (que custa sozinha tanto como os 40 canais básicos da TV - 20,80€). Esta semana telefonaram-lhe de lá a dizer para ele não desistir que lhe baixavam o preço para metade (10 euros) e ainda deixava de pagar o aluguer do descodificador (2,54 €)...
Será normal escrever numa ficha de informação aos pais, acerca de duas crianças que entraram para a escola em 2003, com 5 anos de idade (só fizeram 6 anos em Novembro): "a sua aprendizagem é dificultada por ter atitudes muito infantis" ??
Que queria eu que eles tivessem? Atitudes de adulto? Eu sinto-me incomodada a escrever estas coisas!...
Toda a gente sabe aquela história que se aprende no liceu, do cientista que, para provar a sua teoria, põe uma pulga em cima duma mesa e vai gritando "salta" e a pulga vai saltando. Ele então vai-lhe arrancando as patas, até que a pulga, já sem nenhuma patinha, à ordem "salta" fica muda e queda. Conclusão do cientista: "se arrancarmos todas as patas a uma pulga ela fica surda!"
Ensinavam-nos esta história para percebermos que, mesmo as experiências sendo bem feitas, é preciso ter muito cuidado para as conclusões não serem completamente disparatadas...
Lembrei-me disto hoje, a propósito duma notícia que ouvi na rádio, sobre a taxa de alcoolémia. Concluía o jornalista que, como cada vez se apanham mais condutores com excesso de álcool no sangue isso quer dizer que cada vez se bebe mais... Eu tenho cá para mim, por tudo aquilo que vou ouvindo e observando, que as pessoas que vão conduzir têm cada vez mais o cuidado de não beber! O que está a acontecer é que há agora uma vigilância policial muito maior! (e já não era sem tempo!)
Às voltas com as avaliações dos Golfinhos aqui no escritório, ouço o berro do meu marido lá da cozinha: "Guiiidaaaaaaaaaa, anda comeeeeeeer" Respondo eu: "Já vou, deixa-me só acabar de fazer um garoto"
Risota geral na cozinha, ou não estivessem lá filhota e genro! Uns maldosos, é o que é!
Hoje à tarde fui a casa dos meus pais e quando lá cheguei a minha mãe estava a começar a fazer um pão-de-ló (a especialidade da casa). Estive a ajudá-la mas impus as minhas condições: nada de "salazar" para rapar a bacia para a forma: quem rapa a bacia sou eu! Ela teve de aceitar, claro, até porque reza a lenda que eu apanhei do meu pai quando era pequena porque ele insistiu para que eu provasse a massa do bolo. Eu disse que não queria porque aquilo não prestava... Parece que levei uma palmada porque "nunca se diz que não se gosta duma coisa que não se provou".
A técnica do meu pai resultou: assim "convidada" a provar, eu provei e gostei. E daí para a frente o problema passou a ser o contrário: eu fazia sempre questão de provar a massa! Etapa por etapa, lá ia eu metendo o dedinho até à empanturradela final quando a massa vai para a forma. E reza também a lenda que daí para a frente não se podia ralhar comigo por causa disso, uma vez que a culpada de tal "vício" não tinha sido eu! Hoje essa história foi relembrada enquanto estávamos todos à mesa do lanche a comer o pão-de-ló, com o meu pai em franca recuperação.