Hoje deu-me para os contar e deu este número redondinho...
(aviso: sentem-se se estão de pé)
Oitenta e oito é o número de manuais que tenho guardados no meu armário da escola e que pertencem aos meus 8 (OITO) alunos do 1.º ano.
Em vez de se falar em manuais reutilizáveis (tarefa impossível por exemplo na matemática que está cheia de desenhos e gráficos e outras coisas que as crianças não conseguem copiar para os cadernos), não seria melhor acabar com esta enchente? Na era da internet, das fotocópias, dos CD e DVD, porque não apenas 1 manual para cada disciplina?
Em virtude do Orçamento de Estado, houve aumento do IVA de 6% para 23% referente ao leitinho com chocolate que é fornecido, pelos estabelecimentos de ensino públicos, aos alunos.
Por este motivo passa a ser disponibilizado aos mesmos, pela manhã, um pacote de vinho tinto/branco PORTA DA RAVESSA que mantem a taxa de IVA a 13%.
Logo no dia 1 de setembro foram à minha escola uns trabalhadores da Câmara (3!), a fim de cortarem uns ramos da árvore do recreio que está a incomodar o vizinho (foi ele quem fez um requerimento à Câmara para virem podar a árvore, requerimento esse que foi pago).
Quando os homens lá chegaram, não cortaram os ramos à árvore porque não tinham escada! O vizinho (o tal que os chamou lá) prontificou-se a emprestar-lhes a sua escada, mas eles não quiserem porque diziam que esta não havia sido requisitada (?).
Entretanto, como eles estavam na escola, a funcionária pediu-lhes que pelo menos aproveitassem a viagem para cortar uns ramos da amoreira que temos no recreio e que durante as férias cresceu tanto que nos impede a passagem pela "passadeira" de cimento que temos no recreio, obrigando-nos a andar pela terra. Que não, não podiam cortar os ramos porque "o serviço não foi requisitado"...
Mas que raio faz esta gente? Mas que raio de burocracia é esta que impede que se façam estes serviços simples, e que vai obrigar a uma nova deslocação de outros 3 homens - embora ainda não saibamos quando?
Já levei alguns "puxões de orelhas" por estar sempre a dizer que as famosas AEC (actividades de enriquecimento curricular ou apoio à família) servem apenas para entreter as crianças enquanto os pais não os podem (ou não querem, na grande maioria dos casos) levar para casa.
Que sou é mazinha, que aquelas actividades são mesmo muito úteis para as crianças aprenderem mais e patati patatá, dizem os defensores da tortura.
Se dúvidas houvesse sobre a verdadeira utilidade dessas "actividades", basta repararem no que vai acontecer na minha escola este ano lectivo: os alunos TODOS (cerca de 30) enfiados - nessas actividades - numa única turma! Alunos dos 5 aos 11, do 1.º ao 4.º ano, todos no mesmo grupo! E ainda há mais pormenores giros: as aulas de inglês têm (deviam ter?) durações diferentes conforme o ano de escolaridade dos alunos...
Resta-me apelar, na próxima reunião de pais, ao bom senso daquela gente, e tentar convencer os que possam que venham buscar os filhos no fim das aulas. Para o bem da sanidade mental deles e também das pobres professoras que lá forem parar.
Embora a ministra só tenha dado ordem para serem "abatidas" as escolas com menos de 20 alunos, há directores "mais papistas que o Papa" e que querem abater também escolas com mais de 30 por uma questão de " gerir os recursos" ou melhor, de poupar uns cobres ao Estado (não sei com que intenção, porque duvido que o Estado leve isso em consideração seja para o que for).
A minha escola (com 30 alunos matriculados) está nessa situação. Este ano lectivo, que agora está a acabar, começou com uns dias de atraso porque a escola, depois de muitos anos em mau estado, entrou finalmente em obras!
Infelizmente, não é caso único: segundo notícia do jornal i de hoje, gastaram-se 3 milhões de euros em obras em escolas que estão para fechar (e só contabilizaram 19, mas são muitas mais).
Hesitei bastante antes de escrever este post, mas decidi fazê-lo. A pessoa a quem me refiro, além de não ler blogs, mantém-se no anonimato. Mas escrevo principalmente para que, quem me lê, entenda do que falo quando digo que no meio em que trabalho, os pais e mães dos nossos alunos são pessoas com baixa formação académica, alguns são mesmo analfabetos. E são todos ou quase todos, pessoas ainda bastante novas, na casa dos 30 ou ainda menos. Quer dizer, nasceram na altura do 25 de Abril. Há muito ainda a fazer pela educação neste país, acho que devia ser altura de a levar a sério. A prioridade não devia ser acrescentar anos à escolaridade, mas antes acrescentar qualidade à escolaridade que existe actualmente.
A história:
Uma mãe dirigiu-se esbaforida à escola pedindo que lhe dispensassem o filho das aulas porque tinha de ir com ele à vacina ainda hoje. A auxiliar que a atendeu estranhou a pressa (normalmente avisam de véspera se as crianças têm de ir a algum lado), mas a senhora disse que tinha mesmo de ir porque tinha acabado de receber uma carta. E mostrou a carta. Tratava-se afinal de um folheto que lhe tinham metido na caixa do correio e que dizia mais ou menos "Hoje em dia as vacinas evitam muitas doenças. Vacine o seu filho."
Hoje, os Pirilampos (e todos os alunos de todas as primárias e prés do Agrupamento) foram ao Centro Cultural e de Congressos de Aveiro, assistir a um espectáculo de teatro.
Mas não foi um teatro qualquer: quem representou a peça foram os seus colegas da Escola Castro Matoso, a escola-sede do nosso agrupamento. Com a ajuda de alguns professores, esses alunos mais velhos montaram e representaram uma peça baseada nas várias personagens de Walt Disney: as princesas e os príncipes mais famosos, os 7 anões, a Pocahontas, o Hércules, as bruxas más de todas as histórias, a Cruella, os Irmãos Metralha... Estaviveram 40 alunos em cena!
Foi um espectáculo divertido e muito bem representado. Acreditem que já espectáculos feitos por profissionais muito piores!
Parabéns a todos os meninos, meninas e professores intervenientes!
Já foram distribuídos aos professores os impressos para pedir os Magalhães para os novos alunos do 1.º ano. Esta medida populista, demagógica e praticamente inútil, continua.
Na minha turma, de 13 Magalhães que foram dados às crianças em Março, há apenas 3 sobreviventes. As mães dos alunos com computadores "falecidos" queixam-se na escola, como se eu tivesse alguma culpa. Quando lhes digo que devem ligar para o número de assistência, dizem-me que de lá ninguém as atende (e os computadores têm todos menos de 1 ano o que deveria dar direito a accionar a garantia).
E, estando as coisas neste pé, que credibilidade merecem estes políticos?
Perguntava aos alunos a professora, cheia de esperança de que naquelas cabecinhas existisse uma réstea de lembrança da história ouvida já 2 vezes por uns e 3 vezes por outros: (ah, a professora era eu...)
"E então meninos, alguém ainda se lembra quem era o S. Martinho?"
"Eu lembro" - responde prontamente a F. - "era vendedor de castanhas!"
O S. é meu aluno, tem 10 anos, e no final da semana passada apareceu-me na escola quase sem poder falar e com a zona da boca inflamada. A causa? Um piercing na boca por baixo do lábio inferior! Uma coisa metálica, enorme, com uma bola cá fora e um bico lá dentro, que lhe bate nos dentes e mal o deixa comer e falar.
Quando lhe ralhei, dizendo "tens esse problema no nariz (ele anda sempre ranhoso e só respira pela boca) e o teu pai nunca te levou ao médico para te tratar e agora leva-te a fazer uma coisa dessas!" ele, pensando que eu achava que devia ser o médico a fazer aquilo, respondeu-me "não fui a lado nenhum, foi o meu primo que me fez lá em casa".
Andei à procura de legislação, mas não achei nada de concreto, apenas projectos de lei.
Alguém me pode dizer se há algo de concreto acerca deste assunto?