Rapidinha de segunda (xlv)
A PILITA ALENTEJANARija, enquanto durou.
Agora q'amolengou
e antes q'a morda a cobra,
vou atá-la c'uma corda
pra ela nã me fugiri.
Preciso da sacudiri,
leva tempo pá'cordari
já nem se sabe esticari.
Más lenta q'um caracoli,
Enrola-se-me no lençoli.
Ninguém a tira dali,
Já só dá em preguiçari.
Nada a faz alevantari
e já nã dá com o monti,
nem água bebe na fonti.
Que bich'é que lhe mordeu?
Parece defunta, morreu.
Deu-lhe p'ra enjoari,
Nem lh'apetece cheirari.
Jovem, metia inveja.
Com más gás q'uma cerveja,
Sempre pronta p'ra brincari.
Cu diga a minha Maria,
Era de nôte e de dia.
Até as mulheres da vila,
Marcavam lugar na fila,
p'ra eu lha poder mostrari!
Uma moura a trabalhari,
motivo do mê orgulho.
Fazia cá um barulho!
Entrava pelos quintais,
Inté espantava os animais.
Eram duas, três e quatro,
da cozinha até ao quarto
e até debaixo da cama.
Esta bicha tinha fama.
Punha tudo em alvoroço,
desde o mê tempo de moço.
A idade nã perdoa,
acabô-se a vida boa!
Depois de tanto caçari,
já merece descansari.
Contava já mê avô:
"Niuma rata lhe escapou!"
É o sangui das gerações.
Mas nada de confusões,
pois esta estória aqui escrita,
É da minha gata, a Pilita!